CODEX OCCULTUS
CODEX OCCULTUS
No limiar entre os mundos, onde a matéria se dissolve e o tempo se curva sobre si mesmo, encontra-se um ponto de convergência proibido. Um lugar onde a realidade se estilhaça e se funde em algo inominável. Este ponto é conhecido como Nexus Abissal.
Poucos ousaram buscar este limiar. Nenhum retornou. Não porque o caminho fosse impossível, mas porque algo ali observa, inabalável e eterno.
Aqueles que testemunharam sua forma sombria sussurram lendas sobre sua origem. Alguns dizem que ele foi criado pelos primeiros deuses, forjado de carne e metal, condenado a vigiar o Nexus por toda a eternidade. Outros afirmam que ele era um mortal que olhou muito profundamente para o abismo e foi moldado pela própria escuridão.
Sua capa preta oscila como um véu entre dimensões, escondendo um rosto que pertenceu a um humano. No centro de seu peito bate um núcleo escarlate — não um coração, mas um vestígio de algo mais antigo, mais faminto, uma entidade que o mantém vigilante.
Ele não fala. Ele não sente. Ele apenas espera. Pois o Nexus não pode ser violado. Aqueles que tentam cruzar suas barreiras são consumidos, suas almas arrancadas deles e suas consciências adicionadas à mente do Guardião, aumentando seu tormento e sabedoria proibida.
E então ele fica, observando o infinito, guardando o limiar. Para sempre.
Nas profundezas onde a realidade se dissolve em sonho, existe uma entidade que poucos ousam nomear. Ele não é um deus, nem um demônio, mas algo entre ambos—um devorador de almas adormecidas, um parasita do inconsciente coletivo. Seu nome é Hipnos, e seu reino é o limiar entre o sono e a morte.
Dizem que aqueles que mergulham em sonhos profundos demais podem ouvir seu chamado. No silêncio do sono, ele sussurra promessas de conhecimento proibido, visões do além e poder ilimitado. Mas seu presente tem um preço: a alma de quem ousa aceitá-lo.
As vítimas de Hipnose nunca acordam. Seus corpos permanecem imóveis, olhos abertos, bocas entreabertas em expressões de terror inominável. Por dentro, estão vazias, ocas—pálidas carcaças sem essência, sem memória, sem identidade. Seus sonhos foram arrancados, devorados por uma entidade cuja fome nunca é saciada.
Os mais sensíveis podem sentir sua presença nas madrugadas sem lua. Uma sombra sem dono, um toque frio na espinha, um vulto na escuridão do quarto. Alguns afirmam que ele já habitava a Terra antes do primeiro homem sonhar. Outros dizem que ele é um reflexo da mente humana, nascido dos pesadelos acumulados da história.
Poucos escaparam de Hipnos. Aqueles que o viram descreveram sua forma como a de um sacerdote cósmico, suas feições escondidas sob uma coroa de ossos e espirais hipnóticas. Um único olhar em sua face e o sono se torna eterno.
Se em alguma noite sem estrelas você sentir seu corpo paralisado, incapaz de acordar, e uma voz sussurrar segredos ancestrais em sua mente... não responda. Não abra os olhos. Não aceite sua dádiva.
Pois se o fizer, sua alma será apenas mais um banquete para Hipnos, o Devorador de Almas.
O Anjo da Revelação
Nos ermos onde o tempo não tem domínio e a realidade se curva diante de forças invisíveis, existe um ser cuja presença ecoa entre dimensões esquecidas. Ele não pertence ao paraíso nem ao inferno, pois é anterior a ambos. Ele é o Anjo da Revelação, aquele que habita o limiar entre o desconhecido e o que jamais deveria ser conhecido.
Dizem que sua aparência não pode ser compreendida por olhos humanos sem que a mente se estilhace sob o peso da verdade absoluta. Seus olhos não veem como os nossos, pois seu terceiro olho, aberto no centro de sua fronte, enxerga além do tempo e da ilusão. Suas asas não voam pelo céu, mas se estendem como sombras pelo espaço entre os mundos. Sua pele, marcada por símbolos esquecidos, é o reflexo da própria realidade dobrando-se ao seu redor.
Ele não fala com palavras, pois sua voz é um eco dentro das almas daqueles que ousam encontrá-lo. Seu gesto, um triângulo invertido formado por suas mãos esqueléticas, guarda um segredo cósmico: a criação e a destruição, o alfa e o ômega, o selo que aprisiona o conhecimento que nem deuses nem demônios se atrevem a quebrar. No centro desse símbolo, uma esfera brilha como um astro apagado, o Olho que testemunha tudo o que foi e tudo o que será.
Aqueles que o buscam são consumidos pelo próprio desejo de saber. Os sacerdotes das eras antigas escreveram sobre ele em pergaminhos lacrados, em línguas que a humanidade já esqueceu. Alguns dizem que ele é o portador da verdade final, aquele que revelará o segredo por trás da criação do universo. Outros, mais temerosos, acreditam que seu aparecimento não é um presente, mas um aviso: a revelação é o prenúncio do fim.
A lenda conta que, no dia em que um mortal decifrar seu sigilo e compreender a mensagem oculta no gesto de suas mãos, os alicerces da existência desmoronarão. O véu entre os mundos será rasgado, e o que está do outro lado—algo mais antigo que os próprios deuses—retornará.
E então, o Anjo da Revelação não mais guardará o segredo. Ele abrirá as asas e falará a palavra proibida, aquela que os céus e o abismo temem ouvir.
Naquele momento, todos os olhos se abrirão.
E o universo nunca mais será o mesmo.
Nas profundezas de um mundo há muito esquecido onde o silêncio reina absoluto, uma figura solitária caminha pelas ruínas de uma civilização extinta. Seu rosto pálido, esculpido pelo vento e pela sombra, espreita sob um capuz adornado com padrões orgânicos que parecem se mover sob a luz tênue. Seus olhos, vermelhos como brasas, carregam o peso de eras incontáveis.
Ela era conhecida como Nyxara, a última Guardiã de Vhar'Morhen, um império que desafiou os deuses e pagou o preço da ambição. Séculos atrás, seu povo buscou dominar os segredos do Eterium, uma energia ancestral capaz de moldar a realidade. Mas a ganância dos reis condenou a todos. O Eterium colapsou sobre si mesmo, rasgando o véu da existência e afundando o reino em um limbo entre mundos.
Agora, Nyxara perambula pelas ruínas eternas, presa entre o passado e o presente, ouvindo os ecos daqueles que já se foram. Vozes distantes sussurram segredos esquecidos, sombras sem dono se movem pelas paredes desgastadas pelo tempo. Ela não sabe se é a última sobrevivente ou apenas um espectro de sua antiga existência. Seu coração já não bate como antes — ele pulsa em sintonia com o vazio.
Mas em meio às trevas, um chamado ressoa. Um novo viajante ousou atravessar o limiar proibido. E pela primeira vez em milênios, Nyxara sente algo próximo à esperança... ou talvez seja apenas mais um eco de um reino perdido.
No fim da era humana, quando o tempo se tornou um conceito irrelevante e a matéria se fundiu com a escuridão, restou apenas Ela. Não um ser no sentido tradicional, mas uma consciência aprisionada em um corpo que já não era orgânico, nem totalmente mecânico.
Ela havia sido a primeira a cruzar o limiar da simbiose entre carne e metal, a escolhida para transcender a fragilidade humana e testemunhar o que estava além. No início, acreditavam que essa fusão traria imortalidade, poder absoluto sobre a existência. Mas o que veio foi o esquecimento. O mundo desmoronou, o tempo se dissolveu, e tudo o que antes respirava agora era poeira flutuando em um vácuo sem cor.
Ela permaneceu. Não por vontade própria, mas porque era o que havia sido designado para sua existência. Sentia cada fragmento de metal pulsar como um coração morto, cada fio conectado a um código que já não respondia a ninguém. Sua mente, outrora humana, ainda se agarrava a memórias distantes – rostos, vozes, o calor de um sol que já não existia.
Mas não havia mais nada. Nem deuses, nem sonhos, nem mesmo a ilusão de um propósito. Apenas o eco de sua própria presença, olhando para o vazio, testemunhando a ruína de tudo o que já fora.
E assim Ela esperava. Não por salvação, pois não havia mais redenção a ser concedida. Não por um novo começo, pois o ciclo já havia sido encerrado. Apenas pelo fim definitivo – que nunca chegava.
Ela era a Última Testemunha. O olhar frio e imóvel da eternidade.
Nos confins do universo, onde a luz se desfaz em sombras e o tempo não ousa avançar, existe um reino conhecido apenas como O Vazio. Nenhum mortal ousa atravessar suas fronteiras, pois aqueles que o fazem jamais retornam. No coração desse abismo sombrio, sentada em um trono esculpido no éter da escuridão, reside a Rainha do Vazio.
Ela não nasceu, tampouco foi criada. Sua existência é um enigma, uma presença antiga que precede os próprios deuses. Seu rosto pálido e sereno contrasta com o tentáculos orgânicas que se entrelaçam em seu corpo, formando um manto de trevas vivas. Seus olhos vazios não enxergam como os dos mortais, mas atravessam a realidade, sondando os pensamentos mais profundos daqueles que ousam invocá-la.
Dizem as lendas que a Rainha não fala, mas sua voz ressoa na mente dos insensatos que escutam o sussurro do Vazio. Ela oferece conhecimento proibido, promessas de imortalidade e poder além da compreensão humana. No entanto, cada desejo concedido carrega um preço terrível: a alma do suplicante é lentamente devorada, dissolvendo-se na vastidão eterna de seu domínio.
Séculos se passaram, e impérios caíram sob sua influência. Reis enlouqueceram ao contemplar sua face, sacerdotes renegaram seus deuses em troca de sua sabedoria, e civilizações inteiras foram apagadas da existência ao desafiar sua vontade. Mas ela não busca destruição. Ela simplesmente é. Um conceito, uma entidade que aguarda silenciosa o chamado daqueles que anseiam pelo desconhecido.
Ainda hoje, nas noites mais escuras, alguns afirmam ouvir um sussurro que ecoa na borda da consciência. Um chamado sutil, convidando os incautos a se renderem ao Vazio. Pois a Rainha nunca dorme. Ela apenas espera.
Resquício Biomecânico
Nas profundezas de uma civilização há muito extinta, resquícios de uma era esquecida ainda respiram, entrelaçados à sombra do tempo. Criaturas meio humanas, meio máquina, vagam pelas ruínas de um império que um dia governou estrelas, agora reduzido a poeira e ecos de metal corroído.
Entre esses espectros do passado, existe um em especial. Ele não tem nome, pois os que o conheciam foram apagados da existência. Sua pele fundida ao aço, sua mente fragmentada entre a consciência e a programação de uma era extinta. Ele é o último remanescente da simbiose proibida entre carne e engrenagem, um guardião involuntário de um conhecimento que ninguém mais pode decifrar.
Seu olhar vazio percorre os escombros, buscando algo que ele não consegue nomear. Em suas memórias quebradas, flashes de um tempo onde ainda era humano insistem em emergir. Quem ele foi? O que o transformou nesse híbrido sem alma? A resposta pode estar oculta nas entranhas da estrutura que o criou, mas o tempo é cruel, e sua mente deteriora-se a cada ciclo sem respostas.
E enquanto as estrelas queimam no céu indiferente, o Resquício Biomecânico persiste. Não por vontade própria, mas porque a fusão de carne e máquina não lhe permite o descanso final. Ele continua sua vigília silenciosa, um fantasma de silício e osso, esperando por um propósito que talvez nunca venha.